Para além da precariedade

cenas e cenários do trabalho e da natureza nos canaviais paulistas

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Autores

DOI:

https://doi.org/10.20336/rbs.1130

Palavras-chave:

trabalho rural, trabalho e precarização, trabalho rural e meio ambiente, trabalho canavieiro

Resumo

Este artigo analisa as articulações entre trabalho e natureza nos canaviais paulistas, a partir das experiências de mulheres migrantes que vivenciaram condições extremas de precariedade laboral. A investigação tem como base entrevistas, registros visuais e dados qualitativos recentes sobre o setor sucroalcooleiro. Articula os referenciais de Raymond Williams (estrutura de sentimentos e ideias sobre a natureza), Edward Thompson (classe e experiência) e Judith Butler (precariedade). Argumenta-se que os testemunhos das trabalhadoras revelam não apenas condições de exploração, mas também formas emergentes de resistência, solidariedade e elaboração simbólica do sofrimento. Por meio da análise de suas vivências, afetos e formas de resistência cotidiana, o artigo conclui que, no contexto do trabalho nos canaviais paulistas, a precariedade alcança um estatuto de dispositivo – isto é, um conjunto heterogêneo de práticas, discursos, normas, saberes e técnicas que organizam formas de poder. Neste exercício, a natureza e o corpo aparecem como territórios em disputa, atravessados por práticas de dominação, mas também por gestos de insurgência, revelando as contradições da modernização conservadora promovida pelo agronegócio canavieiro.

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Biografia do Autor

Rodrigo Constante Martins, UFSCar

Bacharel e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos. Doutor pelo Centro de Recursos Hídricos e Estudos Ambientais da Universidade de São Paulo (2004). Possui pós-doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (2005-2006), como bolsista da Maison des Sciences de l'Homme. Foi pesquisador visitante do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (2008), professor visitante na Université Paris Nanterre - Paris X (2019-2020) e pesquisador convidado do Institut de Recherche pour le Développement - IRD, na França (2020). É professor associado do Departamento de Sociologia, do Programa de Pós-graduação em Sociologia e do Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Foi chefe do Departamento de Sociologia (2014-2015) e coordenador do Programa de Pós Graduação em Sociologia da UFSCar (2015-2019). Desde janeiro de 2021 é Pró-reitor de Pós Graduação da UFSCar. Atua na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia Rural e Sociologia Ambiental. É bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq, nível 1C. Foi membro da diretoria da Rede de Estudos Rurais (gestão 2021-2023). Seus principais temas de investigação são: questão agrária e conflitos socioambientais, ruralidades e meio ambiente, sociedade e recursos hídricos, desenvolvimento rural, governança das águas e teoria social.

Maria Aparecida de Moraes Silva, UFSCar

Possuo graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1968), mestrado em Sociologie Du Dévéloppement Iedes - Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) (1978) e doutorado em Sociologie Du Développement Iedes - Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) (1980). Sou livre-docente pela UNESP em 1997. Tenho experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia Rural, atuando principalmente nos seguintes temas: agricultura e capitalismo, agricultura e modernização, exploração do trabalho modernização agrícola, trabalhadores rurais e migrantes e assentamentos rurais, relações de gênero e raça/etnia. É pesquisadora Nível 1A do CNPq. Recebi bolsa de pesquisadora Senior da Capes no período de 2014-2017. Atualmente sou professora visitante do programa de Pós-graduação em Sociologia da UFSCar. Participo, na condição de professora colaboradora, do corpo docente do curso de Especialização, Maestria e Doctorado Sociología de la Agricultura latinoamericana da UNco, na Facultad de Derecho y Ciencias Sociales de Comahue/Argentina. Sou integrante do Grupo do CLACSO , período 2023-2025, Trabajo agrario, ruralidades. y desigualdades. Deste grupo participam pesquisadores do Uruguai, Argentina, Brasil, México, Equador, Bolívia, Paraguai, Cuba, Peru, Espanha. É coordenado pelos professores Germán Quaranta del Centro De Estudios de Investigaciones laborales de la UBA y Conicet, Argentina e Alberto Rieella, de la Universidad de la República, Uruguai. Sou coordenadora do Repositório digital, Vozes e Memórias ( www.vozesememorias.com.br).Sou líder de grupo do CNPq, Terra, trabalho, memória, migrações. Site do grupo da UFSCar: www. trama.ufscar.br. Faço parte do grupo de Pesquisa CETAS (UNESP/PP).Sou membro do GT4 Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (artigos 61 e 62 da Lei Complementar n. 75/1993) sobre cana-de-açúcar. Coordenado por Fátima A. de Souza Borghi (Procuradora Regional da República); Filipe A. Pires (Procurador da República); José Leônidas Bellem de Lima (Procurador Regional da República). Sou Membro do Comitê de Assessoramento de Ciências Sociais (Sociologia) do CNPq, no período de 01/07/22 a 30/06/2025. Recebi Prêmio de Excelência Acadêmica Antonio Flávio Pierucci em Sociologia (edição 2024) conferido pela ANPOCS. (Fonte: Currículo Lattes)

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Publicado

12/19/2025

Como Citar

Constante Martins, R., & Moraes Silva, M. A. de. (2025). Para além da precariedade: cenas e cenários do trabalho e da natureza nos canaviais paulistas. Revista Brasileira De Sociologia - RBS, 13, e-rbs.1130. https://doi.org/10.20336/rbs.1130

Edição

Seção

Dossiê Precariedades Contemporâneas