Da vida sem salário ao empreendedorismo popular
aspirações de modernidade na periferia de São Paulo
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https://doi.org/10.20336/rbs.1029Palavras-chave:
periferias urbanas, cultura popular, vida sem salário, negócios de impacto social, empreendedorismoResumo
O objetivo deste artigo é investigar processos de racionalização da força de trabalho e modernização dos modos de vida presentes na periferia de São Paulo baseados na experiência da vida sem salário. Para isso, estabelece como premissa que as ocupações não assalariadas estão no cerne do modo de vida popular, em que o anseio por autonomia é sua principal característica; junto dele, sobrevivem valores e costumes tradicionais. Por sua vez, o empreendedorismo como discurso de alcance global, ao mesmo tempo que remete ao individualismo presente nesses modos de vida, carrega, através dos negócios de impacto social, uma enfática iniciativa de modernização voltada a jovens em busca de ascensão e prestígio social, mas também para os mais velhos, como renovada esperança de uma vida mais satisfatória. Baseado em etnografia conduzida na periferia de São Paulo e entrevistas aprofundadas, o artigo conclui que o empreendedorismo, ao propor a racionalização das relações de trabalho, resulta tanto na ressignificação de saberes tradicionais quanto em sua reassimilação por meio da forma cultural do empreendedorismo popular.
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