Conexões globais desiguais
a gestão de veículos em fim de vida útil e os mercados de veículos e peças usados
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https://doi.org/10.20336/rbs.1024Palavras-chave:
veículos em fim de vida útil, economias informais, dispositivos estatais, globalizaçãoResumo
O presente artigo objetiva analisar conexões entre dispositivos estatais que regulam a destinação de veículos em fim de vida útil e a conformação de economias, locais e transnacionais, de automóveis e autopeças usados. Para tal discussão, partiremos do que aprendemos de três contextos empíricos específicos: os mecânicos de rua em Saint-Denis, norte da Grande Paris, França; o comércio de autopeças na região de Abossey Okai, em Acra, Gana; e a desmontagem de veículos para venda de peças na Avenida Riacho, em São Paulo, Brasil. Essa discussão se baseia em resultados preliminares do projeto Globalcar, uma pesquisa etnográfica multissituada e coletiva sobre circuitos econômicos (in)formais e (i)legais de veículos e autopeças de segunda mão, em desenvolvimento desde 2021. No contexto contemporâneo, veículos em fim de vida útil são recursos globais valiosos, disputados por diferentes circuitos econômicos – como a indústria da reciclagem, a reutilização de peças usadas e até mesmo a exportação para reparação e revenda como veículo de segunda mão para territórios com regulações menos restritivas ou mais facilmente burláveis. Tais redes transnacionais representam vias secundárias da cadeia automotiva, mecanismos de expansão e capilarização do “sistema” da automobilidade nas periferias do capitalismo. Suas dinâmicas desvelam conexões e fricções globais, levantando um debate sobre as geografias desiguais de políticas ambientalistas, do desenvolvimento econômico e da globalização.
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