O que resta da subjetividade
sono, depressão e outras "resistências passivas" à subjetivação capitalista
Visualizações: 414DOI:
https://doi.org/10.20336/rbs.979Palavras-chave:
Capitalismo, Subjetividade, Sono, Depressão, dopingResumo
Diversas perspectivas teóricas sustentam que a lógica sistêmica do capitalismo contemporâneo depende, no seu funcionamento cotidiano, de formas particulares de subjetividade. Da indústria midiática de conteúdo “motivacional” até o recurso a psicofármacos como instrumentos de otimização da própria conduta, são múltiplos os “dispositivos” mediante os quais os indivíduos buscam corresponder aos modelos de individualidade requeridos pelo capitalismo atual. A linguagem foucaultiana da “produção de subjetividades”, cujos méritos analíticos despontam em variados estudos sobre a “governamentalidade” neoliberal, tem razão em sublinhar o grau em que os modos de agir, pensar e sentir das subjetividades individuais são moldados por aqueles dispositivos na contemporaneidade. Por outro lado, fenômenos como o sono, o doping e a inação depressiva mostram que aqueles dispositivos subjetivantes encontram “protestos” orgânico-psíquicos e “resistências passivas” na própria subjetividade que procuram moldar. Mapeando tais dinâmicas conflitivas entre dispositivos e resistências, o artigo percorre quatro eixos argumentativos, cada um dos quais privilegiando uma contribuição autoral particular: as reflexões de Alain Ehrenberg sobre o recurso a drogas de alteração do estado de consciência como instrumentos de otimização do desempenho na “sociedade do doping”; as cogitações de Jonathan Crary sobre o sono como obstáculo à colonização completa da subjetividade pelo imaginário capitalista da atividade ininterrupta; a interpretação sistêmica e política da depressão como efeito estrutural do “realismo capitalista” formulada pelo crítico cultural Mark Fisher; e, finalmente, a análise da psicopatologia como “protesto” levada a efeito pela filósofa feminista Susan Bordo, central para a apreensão da ambiguidade inerente às “resistências passivas” discutidas no trabalho.
Downloads
Referências
Bauman, Zygmunt. (1998). O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Bauman, Zygmunt. (2001). The individualized society. Cambridge: Polity.
Bauman, Zygmunt. (2010). Vida a crédito. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Boltanski, Luc, & Chiapello, Ève. (2007). The new spirit of capitalism. London: Verso.
Bordo, Susan. (1997). O corpo e a reprodução da feminidade: uma apropriação feminista de Foucault. In Susan Bordo & Alison M. Jaggar (orgs.). Gênero, corpo e conhecimento (pp. 19-41). Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos.
Crary, Jonathan. (2014). 24/7: capitalismo e os fins do sono. São Paulo: Cosac Naify.
Eehrenberg, Alain. (2000). La fatigue d’être soi: dépression et société. Paris: Odile Jacob.
Eehrenberg, Alain. (2010). O culto da performance: da aventura empreendedora à depressão nervosa. Tradução de Pedro Fernando Bendassolli. São Paulo: Ideias & Letras.
Fisher, Mark. (2009). Capitalist realism. Winchester: Zero Books.
Foucault, Michel. (1977). Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes.
Foucault, Michel. (1988). História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal.
Foucault, Michel. (2008). O nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes.
Frantzen, Mikkel Krause. (2019). A future with no future: depression, the left, and the politics of mental health. Los Angeles Review of Books, December 16. Recuperado de: https://lareviewofbooks.org/article/future-no-future-depression-left-politics-mental-health/
Graeber, David. (2018). Bullshit jobs: a theory. New York: Simon & Schuster.
Han, Byung-Chul. (2015). Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes.
Hedva, Johanna. (2020) Sick woman theory. Recuperado de: https://johannahedva.com/SickWomanTheory_Hedva_2020.pdf
Honneth, Axel. (2004). Organised Self-Realization: Some Paradoxes of Individualization. European Journal of Social Theory, 7 (4), 463-78.
Horwitz, Allan, & Wakefield, Jerome. (2007). The loss of sadness. Oxford: Oxford University Press.
Karp, David A. (1997). Speaking of sadness: Depression, disconnection, and the meanings of illness. Oxford: Oxford University Press.
Kramer, Peter. (1994). Listening to Prozac. New York: Viking.
Le Breton, David. (2018). Desaparecer de si: uma tentação contemporânea. Petrópolis: Vozes.
Leader, Darian. (2009). The new black: mourning, melancholia and depression. London: Penguin Books.
Lemke, Thomas. (2011). Critique and experience in Foucault. Theory, Culture & Society, 28 (4), 26-48.
Meltzer, Howard, Bebbington, Paul, Brugha, Traolach, Jenkins Rachel, McManus, Sally, & Dennis Michael. (2011). Personal debt and suicidal ideation. Psychological Medicine, 41(4), 771-8.
Peters, Gabriel. (2021). O novo espírito da depressão: imperativos de autorrealização e seus colapsos na modernidade tardia. Civitas, 21 (1), 71-83.
Plath, Sylvia. (2019). A redoma de vidro. Rio de Janeiro: Biblioteca Azul.
Ratcliffe, Matthew. (2015). Experiences of depression. Oxford University Press.
Rose, Nikolas. (1999). The powers of freedom. Cambridge: Cambridge University Press.
Vandenberghe, Frédéric. (2002). Working out Marx: Marxism and the end of the work society. Thesis Eleven, 69, 21-46.
Zizek, Slavoj. (1999). ‘You may!’. London Review of Books, 21 (6), 3-6.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Gabriel Peters

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).