As novas modalidades de “cerco” da criminalidade carioca

um estudo comparativo das condições de vida em territórios periféricos no Rio de Janeiro

Visualizações: 603

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20336/rbs.969

Palavras-chave:

Milícia, Tráfico de drogas, Violência, Crime, Rio de Janeiro

Resumo

A categoria “cerco” foi proposta por Machado da Silva e Leite (2007) como uma forma de descrever o sentimento de submissão a uma força coercitiva e violenta que produz constantes preocupação e receio de manifestações violentas, com frequência imprevisíveis, que impedem a circulação e o exercício das rotinas locais. Passados quase 20 anos dessa publicação, o Rio de Janeiro descrito pelos autores sofreu grandes transformações nas suas relações entre crime, Estado e moradores de favelas e periferias. A partir de uma análise comparativa de seis localidades, nosso objetivo foi identificar e descrever práticas de atuação de grupos armados nos territórios e os efeitos sobre os moradores dessas localidades. Dessa forma, identificamos como as novas modalidades de “cerco”, notadamente o “cerco pelo terror” e o “cerco panóptico”, implicam novos constrangimentos, riscos, dificuldades, incertezas, e novos tipos de resistência.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lia de Mattos Rocha, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professora Associada do Departamento de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Instituto de Ciências Sociais) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro IUPERJ-UCAM (2009). Líder do Grupo de Pesquisa do CNPq CIDADES - Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS/UERJ)

Monique Carvalho, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professora Adjunta no Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp/UERJ) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutora em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPCIS/UERJ). Pesquisadora associada ao CIDADES – Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS/UERJ)

Jonathan da Motta, Universidade Estadual de Campinas

Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Pesquisador associado ao CIDADES - Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS/UERJ) e ao Observatório Fluminense (PPGCS/UFRRJ).

Referências

Alves, José. (2003). Dos barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada Fluminense. Associação de Professores e Pesquisadores de História, CAPPH-CLIO.

Arias, Desmond. (2013). The impacts of differential armed dominance of politics in Rio de Janeiro, Brazil. Studies in Comparative International Development, 48 (3), 263–284. https://doi.org/10.1007/s12116-013-9137-8

Arias, Desmond & Barnes, Nicholas. (2017) Crime and plural orders in Rio de Janeiro, Brazil. Current Sociology, 65 (3), 448–465. https://doi.org/10.1177/0011392116667165.

Bourdieu, Pierre. (2003). A miséria do mundo. Vozes.

Butler, Judith. (2004). Precarious Life: The powers of mourning and violence. Verso.

Caldeira, Teresa. (2020). City of Walls: Crime, segregation, and citizenship in São Paulo. University of California Press.

Cano, Ignacio, & Duarte, Thais. (2012). No Sapatinho: a evolução das milícias no Rio de Janeiro [2008‐2011]. Fundação Heinrich Böll.

Cano, Ignacio, & Ioot, Carolina. (2008). Seis por meia dúzia? Um estudo exploratório do fenômeno das chamadas ‘milícias’no Rio de Janeiro. In Justiça Global. Segurança, tráfico e milícias no Rio de Janeiro (pp. 48–83). Justiça Global/ Fundação Heinrich Böll.

Carvalho, Monique Batista. (2014). Os dilemas da “pacificação”: práticas de controle e disciplinarização na “gestão da paz” em uma favela do Rio de Janeiro. (Tese de Doutorado em Ciências Socias). Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Carvalho, Monique Batista. (2018). Bem-aventurados os pacificadores: práticas de militarização e disciplinarização dos corpos no programa de pacificação de favelas do Rio de Janeiro. In M. Leite et al. Militarização no Rio de Janeiro: da “pacificação” à intervenção (pp. 92-109). Mórula.

Carvalho, Monique Batista, Rocha, Lia de Mattos, & Da Motta, Jonathan. (2023). Milícias, facções e precariedade: um estudo comparativo sobre as condições de vida nos territórios periféricos do Rio de Janeiro frente ao controle de grupos armados. Fundação Heirich Böll. https://br.boell.org/sites/default/files/2023-03/boll_milicias_faccoes_e_precariedade_boll-e-cidades.pdf.

Da Motta, Jonathan. (2020). A experiência do Jardim Batan: regime de incerteza no pós-pacificação. (Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Das, Veena, & Randeria, Shalini. (2015). Politics of the urban poor: Aesthetics, ethics, volatility, precarity: an introduction to Supplement 11. Current Anthropology, 56 (S11), S3–S14. https://doi.org/10.1086/682353.

Farias, Juliana. (2008a). Quando a exceção vira regra: os favelados como população “matável” e sua luta por sobrevivência. Teoria & Sociedade, 15 (2), 138–171.

Farias, Juliana. (2008b). Da asfixia: reflexões sobre a atuação do tráfico de drogas nas favelas cariocas. In L.A. Machado da Silva (org.) Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. (pp. 173-190). Nova Fronteira/Faperj.

Foucault, Michel. (1977). Discipline and punish. Pantheon Books.

Graham, Stephen. (2011). Cities under siege: The new military urbanism. Verso Books.

GENI - Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos/UFF, & Instituto Fogo Cruzado. (2022). Mapa histórico dos grupos armados do Rio de Janeiro. Fundação Heinrich Böll. Recuperado de: https://br.boell.org/sites/default/files/2022-09/relatorio_mapa_grupos_armados_geni_fogo_cruzado.pdf.

GENI- Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos/UFF. (2022). Chacinas policiais. Fundação Heinrich Böll. Recuperado de: https://br.boell.org/sites/default/files/2022-05/2022_Relatorio_Chacinas-Policiais_Geni-%20apoio%20Boll%20Brasil.pdf.

Hirata, Daniel, & Grillo, Carolina. (2019). Roubos, proteção patrimonial e letalidade no Rio de Janeiro. Fundação Heinrich Böll / GENI)/UFF / NECVU/IFCS/UFRJ. Recuperado em: https://br.boell.org/sites/default/files/2019-12/boll_cidade_e_conflito_FINAL_0.pdf.

Hirata, Daniel et al. (2020). A expansão das milícias no Rio de Janeiro: Uso da força estatal, mercado imobiliário e grupos armados. GENI/UFF / Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ). https://br.boell.org/sites/default/files/2021-04/boll_expansao_milicias_RJ_FINAL.pdf

Leite, Marcia, Rocha, Lia, Farias, Juliana, & Carvalho, Monique. (2018a). Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção. Mórula Editorial.

Leite, Marcia, Rocha, Lia, Farias, Juliana, & Carvalho, Monique. (2018b). Sobre os dispositivos de governo dos pobres em uma cidade militarizada. In M. Leite et al. Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção (pp. 9-16). Mórula Editorial.

Leite, Marcia. (2018). State, market and administration of territories in the city of Rio de Janeiro. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology, 14 (3). https://doi.org/10.1590/1809-43412017v14n3p149

Machado da Silva, Luiz. (1999). Criminalidade violenta: por uma nova perspectiva de análise. Revista de Sociologia e Política, (13), 115–124. https://doi.org/10.1590/S0104-44781999000200009

Machado da Silva, Luiz Antonio. (2008). Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira.

Machado da Silva, Luiz Antonio, & Leite, Marcia. (2007). Violência, crime e polícia: o que os favelados dizem quando falam desses temas? Sociedade e Estado, 22 (3), 545–591. https://doi.org/10.1590/S0102-69922007000300004

Machado da Silva, Luiz Antonio, & Menezes, Palloma. (2020). (Des)continuidades na experiência de “vida sob cerco” e na “sociabilidade violenta”. Novos Estudos CEBRAP, 38 (3), 529–551. https://doi.org/10.25091/S01013300201900030005

Magalhães, Alexandre. (2019). Estratégias de gestão populacional nos processos de remoção de favelas no Rio de Janeiro: o “tempo do rumor” e os “agentes públicos informais”. In C. Costa Teixeira, A. Lobo, & L. E. Abreu. Etnografias das instituições, práticas de poder e dinâmicas estatais (pp. 53-70). ABA Publicações.

Magalhães, Alexandre. (2020). A guerra como modo de governo em favelas do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 36 (106), e3610600. https://doi.org/10.1590/3610600/2021

Mbembe, Achille. (2003). Necropolitics. Public Culture, 15 (1), 11-40.

Mendonça, Tassia. (2014). Batan: tráfico, milícia e “pacificação” na Zona Oeste do Rio de Janeiro. (Dissertação de Mestrado em Antropologia Social). Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Menezes, Palloma. (2018) Monitorar, negociar e confrontar: as (re)definições na gestão dos ilegalismos em favelas “pacificadas”. Tempo Social, 30 (3), 191–216. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2018.133202

Menezes, Palloma. (2020). Teorias dos rumores: comparações entre definições e perspectivas. Sociabilidades Urbanas, 4 (12), 21-42.

Mesquita, Wania. (2008). Tranquilidade sob a ordem violenta: o controle da “mineira” em uma favela carioca. In L.A. Machado da Silva (org.) Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro (pp. 227–248). Nova Fronteira.

Miagusko, Edson. (2018). A pacificação vista da Baixada Fluminense: violência, mercado político e militarização. In M. Leite et al. Militarização no Rio de Janeiro: da “pacificação” à intervenção (pp. 161–177). Mórula.

Misse, Michel. (2011). Crime organizado e crime comum no Rio de Janeiro: diferenças e afinidades. Revista de Sociologia e Política, 19 (40), 13–25. https://doi.org/10.1590/S0104-44782011000300003

Misse, Michel. (2018). Between death squads and drug dealers: Political merchandise, criminal subjection, and the social accumulation of violence in Rio de Janeiro. The Global South, 12 (2), 131–147. https://doi.org/10.2979/globalsouth.12.2.07

Oliveira, João Pacheco de. (2014). Pacificação e tutela militar na gestão de populações e territórios. Mana, 20 (1) 125–161. https://doi.org/10.1590/S0104-93132014000100005

Pope, Nicholas. (2023a). Militias going rogue: Social dilemmas and coercive brokerage in Rio de Janeiro's urban frontier. Journal of International Development. 35 (3), 478-490. https://doi.org/10.1002/jid.3636

Pope, Nicholas. (2023b). Surviving and dying through the urban frontier: Everyday life, social brokerage and living with militias in Rio de Janeiro’s West Zone. Urban Studies, 60 (2), 343-359. https://doi.org/10.1177/00420980221093181

Ramos, Silvia. (Coord.) (2019). Intervenção federal: um modelo para não copiar. CESeC. https://drive.google.com/file/d/1UPulZi6XpsK8DQo6c5oVmwUFUhypkOpA/view

Rocha, Lia de Mattos. (2013). Uma favela "diferente das outras"? Rotina, silenciamento e ação coletiva na Favela do Pereirão. Quartet.

Rocha, Lia de Mattos. (2018). Democracia e militarização no Rio de Janeiro: “pacificação”, intervenção e seus efeitos sobre o espaço público. In M. Leite et al. Militarização no Rio de Janeiro: da “pacificação” à intervenção (pp. 223-239). Mórula.

Vital da Cunha, Cristina. (2015). Oração de traficante: uma etnografia. Garamond.

Werneck, Alexandre. (2015). O ornitorrinco de criminalização: a construção social moral do miliciano a partir dos personagens da ‘violência urbana’ do Rio de Janeiro. Dilemas, 8 (3), 429–454.

Zaluar, Alba. (1985). A máquina e a revolta: as organizações populares e o significado da pobreza. Brasiliense.

Zaluar, Alba, & Conceição, Isabel. (2007). Favelas sob o controle das milícias no Rio de Janeiro. São Paulo em Perspectiva, 21 (2), 89-101.

Downloads

Publicado

06/04/2024

Como Citar

de Mattos Rocha, L., Carvalho, M. B., & Motta, J. W. B. da. (2024). As novas modalidades de “cerco” da criminalidade carioca: um estudo comparativo das condições de vida em territórios periféricos no Rio de Janeiro. Revista Brasileira De Sociologia - RBS, 12, e-rbs.969. https://doi.org/10.20336/rbs.969

Edição

Seção

Artigos