Fábrica dos sonhos

o caso da Mercedes- Benz de Iracemápolis-SP

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20336/rbs.823

Palavras-chave:

trabalho, multinacional, setor automotivo

Resumo

São várias as possibilidades de estudo quando pensamos sobre a chegada de uma grande fábrica de automóveis em uma pequena cidade sem tradição industrial. Do contexto das estratégias globais de expansão da empresa, passando pelas políticas nacionais de fomento ao setor e chegando ao impacto econômico que ela causa na localidade, tudo pode ser estudado, inclusive o significado simbólico que ela imbui nos diversos sujeitos a ela vinculados. O presente trabalho tem como objeto a fábrica da Mercedes-Benz na cidade de Iracemápolis, interior de São Paulo, Brasil. A pesquisa teve um caráter exploratório, tendo em vista o pouco tempo de funcionamento da unidade. Dados foram coletados em bases de dados de jornais e periódicos científicos, visitas in loco foram realizadas e entrevistas em profundidade foram conduzidas com os seguintes stakeholders: três trabalhadores, dois ex-trabalhadores, dois terceirizados, prefeito municipal e um secretário, um deputado federal, dois representantes trabalhistas locais e um internacional, secretário da IndustriAll e ex-membro do Comitê Diretivo da Mercedes-Benz. A análise de conteúdo, com codificação aberta, foi a forma escolhida para o tratamento dos dados. No desenvolvimento do trabalho, procurou-se reconstruir a curta trajetória da empresa naquela localidade (2016-2020), analisando sua estruturação produtiva, emprego, relações de trabalho e, principalmente, a percepção de trabalhadores acerca de sua presença. Dessa forma, a construção narrativa oferecida pelos entrevistados proporcionou-nos um interessante mergulho em seus imaginários sociais, dentro de um contexto de “vinculação” efêmera de uma multinacional do setor automobilístico, estruturada a partir do modelo CKD (Completely Knock-Down), em uma cidade interiorana.

Biografia do Autor

Fernando Ramalho Martins, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

Doutor em Sociologia (UFSCar), professor assistente no Departamento de Administração Pública da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.

Marcos Lázaro Prado, Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr Paulo Prata

Doutor em Sociologia (UFSCar), professor em Ensino Médio e em Nível Superior e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Trabalho, Profissões e Mobilidades, da UFSCar e do Núcleo de Pesquisa Desenvolvimento, Trabalho e Ambiente (DTA), da UFRJ.

Referências

Abreu, Alice R. P., Beynon, Huw, & Ramalho, José R. (2000). The dream factory: VW’s modular production system in Resende, Brazil. Work, Employment & Society, 14(2), 265-282. https://doi.org/10.1177/09500170022118400

ANFAVEA. (2020). Anuário da Indústria Automobilística Brasileira. Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.

Araújo, Sílvia M. (2006). Indústria automobilística e sindicato: atuação renovada no Paraná dos anos 2000. Caderno CRH, 19(46).

Arbix, G., & Zilbovicius, M. (1997). De JK a FHC, a reinvenção dos carros. Scritta.

Bardin, Laurence. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70.

Barreto, Theo da R. (2003). A Precarização do trabalho e da vida dos novos trabalhadores informais: o trabalho flexível nas ruas de Salvador. [Monografia, Universidade Federal da Bahia]. Disponível em: http://www.flexibilizacao.ufba.br/monografiatheo.pdf

Bertão, Naiara. (2017, 6 abr.). R$ 600 milhões para nada? Mercedes pode fechar fábrica em SP. Revista Exame. Disponível em: https://exame.abril.com.br/revista-exame/r-600-milhoes-para-nada-mercedes-pode-fechar-fabrica-em-sp/

Beynon, Huw. (2002). As práticas do trabalho em mutação. In R. Antunes (org.), Neoliberalismo, trabalho e sindicatos: reestruturação produtiva na Inglaterra e no Brasil. Boitempo Editorial.

Beynon, Huw. (2019). As novas realidades do trabalho. Contemporânea: Revista de Sociologia da UFSCar, 9(2), 613-651.

Beynon, Huw. (1995). Trabalhando para Ford. Paz e Terra.

Bicev, Jonas T. (2019). Políticas tripartites e ação sindical: a experiência de negociação do sindicato dos metalúrgicos do ABC no setor automotivo. [Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo]. https://doi.org/10.11606/T.8.2019.tde-13062019-111731

Brandt, Ricardo. (2013, 21 out.). “Polo caipira” vai superar o ABC. O Estado de São Paulo. Disponível em https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,polo-caipira-vai-superar-o-abc-imp-,1087945

Bryman, Alan. (2012). Social research methods. Oxford University Press.

Cardoso, André, Augusto Júnior, Santos, Renata B. dos, Viana, Rodolfo, & Camargo, Zeíra. (2017) Employment, labour relations and trade union strategies in the Brazilian automotive sector. In R. Traub-Merz (ed.), The automotive sector in emerging economies: industrial policies, market, dynamics and trade unions. Trends & perspectives in Brazil, China, India, Mexico and Russia (pp. 148-162). Friedrich Ebert Stiftung.

Creswell, John W. (2014). Investigação qualitativa e projeto de pesquisa: escolhendo entre cinco abordagens. Penso Editora.

Druck, Maria da Graça. (1999). Globalização e reestruturação produtiva: o fordismo e/ou japonismo. Revista de Economia Política, 19(2), 31-48. https://doi.org/10.1590/0101-31571999-1039

Dulci, João A. (2021). Crise, emprego e renda na indústria automotiva: os casos do sul fluminense, Camaçari e grande ABC paulista em perspectiva comparada. Sociologia & Antropologia, 11(1), 219-247. https://doi.org/10.1590/2238-38752021v1119

Dulci, João A. (2018). Configurações do desenvolvimento em duas novas regiões automobilísticas: sul fluminense e Camaçari (BA). Política & Trabalho, 1(48), 75-94. https://doi.org/10.22478/ufpb.1517-5901.2018v1n48.37812

Franco, Tania. (2011). Alienação do trabalho: despertencimento social e desenraizamento em relação à natureza. Caderno CRH, 24(1), 171-191. https://doi.org/10.9771/ccrh.v24i1.19228

Freitas, Larissa D., Menegon, Nilton L., & da Costa, Miguel A. B. (2017). Logística de uma montadora automobilística completely knocked down. Revista Produção Online, 17(4), 1454-1479. https://doi.org/10.14488/1676-1901.v17i4.2738

Gaioto, Danielle. (2016, 25 fev.). Mercedes-Benz inaugura fábrica de Iracemápolis no dia 23 de março. Jornal de Piracicaba, Economia & Negócios. Disponível em http://www.jornaldepiracicaba.com.br/economia_negocios/2016/02/mercedes_benz_inaugura_fabrica_de_iracemapolis_no_dia_23_de_marco. Acesso em: 11 dez. 2017.

Harvey, David. (1992). Condição pós-moderna. Edições Loyola.

IBGE. (2016). Rendimento de todas as fontes: PNAD contínua. IBGE. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101390_informativo.pdf

Ladosky, Mario Henrique G. (2015). Trabalho, desenvolvimento e território: potencialidades e desafios do Polo automotivo de Pernambuco. In Ramalho, José Ricardo; Rodrigues, Iram Jácome (organizadores). Trabalho e ação sindical no Brasil Contemporâneo. Annablume.

Ladosky, Mario Henrique G. et al. (2020). Covid-19 en la industria automotriz brasileña: Trabajo y sindicalismo en tiempos de pandemia. In C. V. Zurita et al. (org.). Un fantasma recorre el mundo: las ciencias sociales ante la pandemia (pp. 383-416). Santiago del Estero: EDUNSE.

Landim, Raquel. (2018, 23 mar.). Empresas vão esperar a eleição antes de investir, diz presidente da Mercedes. Folha de São Paulo. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/03/empresas-vao-esperar-a-eleicao-antes-de-investir-diz-presidente-da-mercedes.shtml

Lima, Jacob C. (org.) (2020). O trabalho em territórios periféricos: estudos em três setores produtivos. Annablume.

Lojkine, Jean. (1995). A revolução informacional. Cortez.

Löwy, Michael. (1998). A teoria do desenvolvimento desigual e combinado. Revista Outubro, n. 1, p. 73-80.

Martins, Fernando, & Prado, Marcos L. Trabalho e emprego na indústria automotiva: o caso da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP). In J. C. Lima (org.), O trabalho em territórios periféricos: estudos em três setores produtivos (pp. 155-200). Annablume, 2020.

Nabuco, Maria Regina, Neves, Magda de A., & de Carvalho Neto, Antonio M. (org.). (2002). Indústria automotiva: a nova geografia do setor produtivo. DP&A Editora.

Neves, Magda de A., & Carvalho Neto, Antonio M. (2006) Novos territórios produtivos e desenvolvimento local: limites e possibilidades. Caderno CRH, 19(46), 35-46.

O Globo. (2020, 17 dez.). Mercedes-Benz fecha fábrica em São Paulo e encerra produção de automóveis no Brasil. Disponível em https://revistapegn.globo.com/Negocios/noticia/2020/12/mercedes-benz-fecha-fabrica-em-sao-paulo-e-encerra-producao-de-automoveis-no-brasil.html

Piore, Michael J., & Sabel, Charles F. (1993). La segunda ruptura industrial. Alianza Editorial.

Prado, Marcos L. (2021, 19 abr.). Brazilian automotive industry and the Covid-19 pandemic: the case of the premium segment. Brazilian Research and Studies Center, 2(1). Disponível em https://bras-center.com/brazilian-automotive-industry-and-the-covid-19-pandemic-the-case-of-the-premium-segment/

Ramalho, José R. (2015). Indústria e desenvolvimento: efeitos da reinvenção de um território produtivo no Rio de Janeiro. Repocs, 12(24), 117-142.

Ramalho, José R. (2006a). Dinâmicas sociopolíticas em novos territórios produtivos. Caderno CRH, 19(46), 9-17.

Ramalho, José R. (2006b). Trabalho e desenvolvimento regional: efeitos sociais da indústria automobilística no Rio de Janeiro. Mauad Editora Ltda.

Rifkin, Jeremy. (2016). Sociedade com custo marginal zero. M. Books do Brasil Editora Ltda.

Rodrigues, Iram J., & Ramalho, José R. (org.) (2007). Trabalho e sindicato em antigos e novos territórios produtivos: comparações entre o ABC paulista e o sul fluminense. Annablume.

Rodrigues, Eduardo. (2021, 17 jan.). Saída da Ford marcou a 2ª onda de desindustrialização recente no Brasil. O Estado de São Paulo. Disponível em https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,saida-da-ford-e-2-onda-dedesindustrializacaorecente,70003584032#

Rodrik, Dani. (2016). Premature deindustrialization. Journal of economic growth, 21(1), 1-33. https://doi.org/10.1007/s10887-015-9122-3

Ruffo, G. H. (2013, 8 out.) Brasil está no auge da terceira onda de fábrica de carros. O Estado de São Paulo, Jornal do Carro 1, p. 2.

Sako, Mari. (2006). Administrando parques industriais de autopeças no Brasil: uma comparação entre Resende, Gravataí e Camaçari. Caderno CRH, 19(46), 61-73. https://doi.org/10.9771/ccrh.v19i46.18546

Santiago, Ariane de C. Q. (2015). A qualificação profissional pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego: um debate necessário. [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Bahia]. Disponível em https://repositorio.ufba.br/handle/ri/18316

Shapiro, Helen. (1997). A primeira migração das montadoras: 1956-1968”. In G. Arbix & M. Zilbovicius (org.). De JK a FHC: a reinvenção dos carros (pp. 23-88). Edições Sociais.

Silva, Cleide. (2013, 14 nov.). Montadoras vão investir R$ 30 bi na região. O Estado de São Paulo, p. h8.

Silva, Cleide. (2016, 28 mar.). Crise provoca o fechamento de mais de 4 mil fábricas em São Paulo em um ano. O Estado de São Paulo. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,crise-provoca-o-fechamento-de-mais-de-4-mil-fabricas-em-sao-paulo-em-um-ano,10000023406

Tomizaki, Kimi. (2006). Rupturas e continuidades nas relações intergeracionais: o futuro da categoria metalúrgica do ABC Paulista. Caderno CRH, 19(46), 87-96. https://doi.org/10.9771/ccrh.v19i46.18548

Downloads

Publicado

10/25/2022

Como Citar

Ramalho Martins, F., & Lázaro Prado, M. (2022). Fábrica dos sonhos: o caso da Mercedes- Benz de Iracemápolis-SP. Revista Brasileira De Sociologia - RBS, 10(25). https://doi.org/10.20336/rbs.823

Edição

Seção

Artigos